Capítulo 2 - Biff Brannon: Parte 2 - "O Coração É Um Caçador Solitário", de Carson McCullers
Uma pergunta antes de começarmos/prosseguirmos neste capítulo: é normal imaginar as personagens com máscaras? Nesta vida pandêmica acho que estou ficando um tanto louca (mais ainda do que de costume), pois pensar em alguém sem máscara às vezes é estranho.
Claro que não imagino a todo momento, mas quando dou uma pausa e começo a ler novamente depois, tenho a mania de colocar máscaras nas personagens. Depois percebo e a imagem da máscara se desfaz. Enfim.
"Você não sabe que não pode trazer crioulos pra um lugar onde os brancos bebem?" alguém perguntou a ele [para Blount].
Blount enfurecido responde:
"Pois fique sabendo que eu também sou parte crioulo", disse Blount em tom de desafio. [...] "Eu sou crioulo, carcamento, húngaro e china. Tudo junto." Alguns dos fregueses deram risada. "E sou holandês, turco, japonês e americano." Blount andava em ziguezague em volta da mesa em que o mudo tomava seu café. Sua voz estava alta e esganiçada. "Eu sou um dos que sabem. Sou um estranho numa terra estranha."
Blount continuou falando com John Singer, falando de como tinha sonhado que estava falando com ele e que ele "era um dos que sabiam". Ele não do que exatamente. Tanto que Biff Brannon o questiona sobre o que ele estaria falando, em um tom quase jocoso. Blount se irrita com Biff e fala para Singer não ligar para o que Biff falava, pois ele também não entendia.
Os demais clientes riam da cena, pois dentre todas as pessoas (embora fossem poucas presentes ali naquele momento), Jake Blount escolheu justamente um surdo-mudo para conversar, e falava que ele era o único que o compreendia ali. Brannon tentava compreender se John Singer realmente estava entendendo o que Blount dizia. John Singer estava entendendo.
E Biff Brannon pensou sobre isso, enquanto Blount continuava a falar com John Singer. Ele se questionava o porquê as pessoas tinham aquela "atração" em falar com aquele surdo-mudo. Qual era a origem daquilo? Para ele, o olhar "cinza" de Singer. Aquele olhar dava a sensação de que ele entenderia qualquer coisa, não importassem o que dissessem. Davam a impressão de que nada o impressionaria, como se conhecesse aquilo e entendesse, não importava o grau de absurdo que algo tivesse...
Blount se cansa e para de falar por um momento. Neste momento, John Singer sinaliza para Brannon que está indo embora. Blount não percebe. Apenas quando volta a falar com Singer e o procura irritado, Biff Brannon o avisa de que seu amigo tinha ido embora. Blount extremamente nervoso sai do restaurante mais uma vez.
Brannon encostou na parede pensando no que poderia fazer por Blount. Não resiste ao cansaço e cochila por um tempo. É acordado por Willie, que trabalhava na cozinha. Willie gaguejava nervoso para relatar o que havia acontecido com Blount, pois policiais estavam levando ele novamente para o restaurante. O dia já estava nascendo naquele momento.
Blount foi parado por policiais depois de se jogar de cabeça contra uma parede e tentar esmurrá-la. Perguntaram onde Blount estava hospedado e pessoas próximas falaram que ele estava hospeado no restaurante New York Café, o que era parcialmente verdade, segundo Biff Brannon quando este confirmou aos policiais.
Formou-se uma pequena multidão que foi dissipada pelos policiais a pedido de Biff Brannon. Este se encarregou, juntamente com John Singer, que estava presente entre a multidão que apareceu para ver a confusão, de dar a Biff Brannon comida e algo parar beber. Após isso, John Singer combina com Biff Brennon de levar Blount para seu quarto na pensão, para ele se recuperar.
O capítulo termina quando Biff Brannon finalmente decide subir para seu quarto para descansar. Alice, sua esposa, assumiria o comando do restaurante.
Quando entra no quarto, percebe que Alice ainda está dormindo, por isso faz de tudo para acordá-la. Alice acorda, mas não levanta imediatamente, pois era domingo e ela precisava preparar a aula de catequese para as crianças da igreja em que frequentava. Ela pega seus materiais, juntamente com a Bíblia, e começa, em voz alta, recitar a lição daquele dia, que era intitulada como "Todos te procuram".
A lição era sobre aquele famoso episódio da Galileia, em que Simão e André, são chamados por Jesus para não não pescarem peixes, como estavam fazendo, mas os convida para serem pescadores de homens, de almas. Após Jesus chama Simão e André, estes e os seus demais companheiros, procuram por Jesus, que foi para o deserto orar. Quando o encontram, falam para Jesus: "Todos te procuram".
Biff Brannon se lembra da sua mãe, quando era pequeno, ela recitava aqueles versículos. Ele tem uma espécie de nostalgia daquele tempo. Tenta desacoplar aquelas palavras que está ouvindo da voz de Alice, da qual possuía repulsa.
Biff Brannon lembra então de quando deixou sua fé, tenta imaginar o que seus pais achariam se soubesse que já ele tinha abandonado a fé, a igreja, a religião.
Biff toma seu banho de sempre, lavando minuciosamente apenas a parte da cintura para cima, pois só lavava todas as partes de seu corpo duas vezes a cada estação. Ele ainda pensa sobre o texto: aquelas palavras "todos te procuram...". Pensava também em como entender tudo que tinha acontecido naquela noite. Ele se pergunta porque Blount queria tanto falar com Singer, como se parecesse que quisesse e estivesse tentando "dar de presente tudo o que tinha dentro de si" para Singer.
A partir daí peço novamente a licença para descrever com as palavras de Carson. Não conseguiria passar de forma justa o como o capítulo termina, que acho que é algo que vale à pena ser lido.
Além disso, exatamente nesta página eu marquei algumas datas, que por algum tempo no passado teve muito significado para mim. Tanto que eu tentava lembrá-los constantemente, decorar eles. Colocá-los na minha mente as memórias que estas datas continham... Um amor proibido... Sim. Adolescentes que somos, mas também quantas coisas temos que nos deparar, coisas que nos desafiam... Enfim.
Segue página final do capítulo:
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