Capítulo 2 - Biff Brannon: Parte 2 - "O Coração É Um Caçador Solitário", de Carson McCullers

Uma pergunta antes de começarmos/prosseguirmos neste capítulo: é normal imaginar as personagens com máscaras? Nesta vida pandêmica acho que estou ficando um tanto louca (mais ainda do que de costume), pois pensar em alguém sem máscara às vezes é estranho. 

Claro que não imagino a todo momento, mas quando dou uma pausa e começo a ler novamente depois, tenho a mania de colocar máscaras nas personagens. Depois percebo e a imagem da máscara se desfaz. Enfim. 

Recado dado pelo Jacquin, por favor, amado/amada, 
use máscara quando sair de casa.


Paramos no momento em que Mick Kelly sai do restaurante, após os comentários de Jake Blount e Biff Brannon sobre o surdo-mudo que estava sentado no meio do salão. 

A partir daí há o desenrolar dos acontecimentos do capítulo para "acelerar" um pouco. E isso graças a Blount. 

Blount estava bêbado, extremamente sujo, com uma macacão que não servia direito para ele. Ele falava sozinho, embora algumas vezes parecia que se dirigia a algumas pessoas. Ele saiu e voltou ao bar duas vezes. 

Antes de sair do New York Café pela primeira vez, Biff tentou convencer Jake Blount a tomar um banho e tomar um jeito, para não ficar mais daquela forma, para arrumar de fato sua vida, que não poderia mais se resumir aquilo todos os dias. Blount ignorou a oferta de Biff. 

Biff Brannon ainda tentou perguntar a Blount de qual local ele era, da onde tinha vindo. A resposta de Blount: "[De] Lugar nenhum". Biff insiste, mas Blount apenas cita remotamente e sem certeza o nome "Carolina". Brannon tenta manter um diálogo com Blount, mas este já não prestava mais atenção e saiu em direção à rua, depois de dizer "Adiós" para Biff.

Biff Brannon ficou como sempre observando os clientes que ainda estavam ali madrugada adentro e pensava sobre surdo-mudo John Singer, que sempre estava sozinha e sempre mantinha suas mãos dentro dos bolsos da calça ou de seu sobretudo; sobre Mick, quando ele se pergunta se deveria ter vendido o maço de cigarros para uma menina de 13/14 anos - e lembremos que estamos falando do final da década de 30, e é muito curioso que os cientistas na época chegaram à conclusão de não haviam evidências suficientes para provar que problemas respiratórios, incluindo câncer, poderia estar ligado ao uso de cigarro, interessante o lobby da indústria comprando estudos também; mesmo no âmbito da ciência nem tudo são flores -, e ele também reflete de como as pessoas com algum tipo de deficiência ou "desajuste" social eram tratadas em seu restaurante, ele sempre colocava algo "por conta da casa", cobrava menos e coisas do tipo.

Às duas horas da manhã, Jake Blount volta, acompanhado de um senhor que Biff Brannon imediatamente reconheceu: era um médico negro (trata-se de Benedict Copland) que atuava a muitos anos na região periférica da cidade, e tinha um parentesco com Willie, que era um dos funcionários do New York Café. O médico expressou um olhar de ódio para Blount, pois parecia que Blount havia o enganado, de alguma forma. Alguns clientes presentes constetaram a presença do médico, que rapidamente foi embora: 

"Você não sabe que não pode trazer crioulos pra um lugar onde os brancos bebem?" alguém perguntou a ele [para Blount].

Blount enfurecido responde:

"Pois fique sabendo que eu também sou parte crioulo", disse  Blount em tom de desafio.                                                                [...]                                                                                                     "Eu sou crioulo, carcamento, húngaro e china. Tudo junto."            Alguns dos fregueses deram risada.                                                  "E sou holandês, turco, japonês e americano." Blount andava em ziguezague em volta da mesa em que o mudo tomava seu café. Sua voz estava alta e esganiçada. "Eu sou um dos que sabem. Sou um estranho numa terra estranha."

Blount continuou falando com John Singer, falando de como tinha sonhado que estava falando com ele e que ele "era um dos que sabiam". Ele não do que exatamente. Tanto que Biff Brannon o questiona sobre o que ele estaria falando, em um tom quase jocoso. Blount se irrita com Biff e fala para Singer não ligar para o que Biff falava, pois ele também não entendia. 

Os demais clientes riam da cena, pois dentre todas as pessoas (embora fossem poucas presentes ali naquele momento), Jake Blount escolheu justamente um surdo-mudo para conversar, e falava que ele era o único que o compreendia ali. Brannon tentava compreender se John Singer realmente estava entendendo o que Blount dizia. John Singer estava entendendo.

E Biff Brannon pensou sobre isso, enquanto Blount continuava a falar com John Singer. Ele se questionava o porquê as pessoas tinham aquela "atração" em falar com aquele surdo-mudo. Qual era a origem daquilo? Para ele, o olhar "cinza" de Singer. Aquele olhar dava a sensação de que ele entenderia qualquer coisa, não importassem o que dissessem. Davam a impressão de que nada o impressionaria, como se conhecesse aquilo e entendesse, não importava o grau de absurdo que algo tivesse...

Blount se cansa e para de falar por um momento. Neste momento, John Singer sinaliza para Brannon que está indo embora. Blount não percebe. Apenas quando volta a falar com Singer e o procura irritado, Biff Brannon o avisa de que seu amigo tinha ido embora. Blount extremamente nervoso sai do restaurante mais uma vez. 

Brannon encostou na parede pensando no que poderia fazer por Blount. Não resiste ao cansaço e cochila por um tempo. É acordado por Willie, que trabalhava na cozinha. Willie gaguejava nervoso para relatar o que havia acontecido com Blount, pois policiais estavam levando ele novamente para o restaurante. O dia já estava nascendo naquele momento.

Blount foi parado por policiais depois de se jogar de cabeça contra uma parede e tentar esmurrá-la. Perguntaram onde Blount estava hospedado e pessoas próximas falaram que ele estava hospeado no restaurante New York Café, o que era parcialmente verdade, segundo Biff Brannon quando este confirmou aos policiais. 

Formou-se uma pequena multidão que foi dissipada pelos policiais a pedido de Biff Brannon. Este se encarregou, juntamente com John Singer, que estava presente entre a multidão que apareceu para ver a confusão, de dar a Biff Brannon comida e algo parar beber. Após isso, John Singer combina com Biff Brennon de levar Blount para seu quarto na pensão, para ele se recuperar. 

O capítulo termina quando Biff Brannon finalmente decide subir para seu quarto para descansar. Alice, sua esposa, assumiria o comando do restaurante. 

Quando entra no quarto, percebe que Alice ainda está dormindo, por isso faz de tudo para acordá-la. Alice acorda, mas não levanta imediatamente, pois era domingo e ela precisava preparar a aula de catequese para as crianças da igreja em que frequentava. Ela pega seus materiais, juntamente com a Bíblia, e começa, em voz alta, recitar a lição daquele dia, que era intitulada como "Todos te procuram".

A lição era sobre aquele famoso episódio da Galileia, em que Simão e André, são chamados por Jesus para não não pescarem peixes, como estavam fazendo, mas os convida para serem pescadores de homens, de almas. Após Jesus chama Simão e André, estes e os seus demais companheiros, procuram por Jesus, que foi para o deserto orar. Quando o encontram, falam para Jesus: "Todos te procuram".

Biff Brannon se lembra da sua mãe, quando era pequeno, ela recitava aqueles versículos. Ele tem uma espécie de nostalgia daquele tempo. Tenta desacoplar aquelas palavras que está ouvindo  da voz de Alice, da qual possuía repulsa. 

Biff Brannon lembra então de quando deixou sua fé, tenta imaginar o que seus pais achariam se soubesse que já ele tinha abandonado a fé, a igreja, a religião. 

Biff toma seu banho de sempre, lavando minuciosamente apenas a parte da cintura para cima, pois só lavava todas as partes de seu corpo duas vezes a cada estação. Ele ainda pensa sobre o texto: aquelas palavras "todos te procuram...". Pensava também em como entender tudo que tinha acontecido naquela noite. Ele se pergunta porque Blount queria tanto falar com Singer, como se parecesse que quisesse e estivesse tentando "dar de presente tudo o que tinha dentro de si" para Singer.

A partir daí peço novamente a licença para descrever com as palavras de Carson. Não conseguiria passar de forma justa o como o capítulo termina, que acho que é algo que vale à pena ser lido.

Além disso, exatamente nesta página eu marquei algumas datas, que por algum tempo no passado teve muito significado para mim. Tanto que eu tentava lembrá-los constantemente, decorar eles. Colocá-los na minha mente as memórias que estas datas continham... Um amor proibido... Sim. Adolescentes que somos, mas também quantas coisas temos que nos deparar, coisas que nos desafiam... Enfim.

Segue página final do capítulo:




 

 

 

 

 









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