Espada de São Jorge III:

Vem, meu bem
Vamos fugir destas linhas
Do destino, da sina
Por que ficar aqui?
Podemos explodir...
Lembro que perguntou
Onde estaria sua serotonina
Sabes que me arrebatou? 
Ainda estás em mim
E assim
Escrevo para me desfazer
Me refazer
Me livrar de você

Mas vamos, por favor, fugir?
Destruir essas cercas?
E nos construir
Com nossas escolhas
Romper com as predeterminações
Por que não fugir para a Islândia? 
Ir aos campos de tulipa da Holanda?
Observar a passagem das estações
Analisar o mapa do mundo como o mapa das emoções
Visitar os vulcões
da outra ilha
Onde a corrente de Humboldt 
Leva o calor
À  despeito de todo horror
Que acontece no Sul
Pega dali o ardor
Das ondas, tão intensas quanto os poemas de Drummond
Para conduzir o ideal de temperatura
Para não matar os descendentes dos fortes vikings
Atuais residentes das casas coloridas de  Reykjavik

Como em um sonho 
Causado por Odin
Ouço o solo de clarinete 
De Alexander Borodin
Que compôs em homenagem
Às feições da paisagem:
Às estepes da Ásia Central
Para registrar na memória
A esquecida Mongólia
Por que não estais nos livros de História?
A ode ao resultado do constante impasse dos moldadores
Da esfera
Dos agentes da Terra
Inanimados, mas tão poderosos
Frente aos humanos presunçosos
Emerge a majestade 
Da Natureza 

E à ela se junta
Em minha ilusão
Na terra da Imaginação
Lá nas províncias do Impossível
Ela, a menina da espada de São Jorge
Ela olhando extasiada
A paisagem
As luzes do Sol se pondo
Batendo em seu rosto 
E no tempo interposto
Entre a durante dessa miragem
E a realidade
Fico perto 
E observo 
Ela tira seus óculos
Seu relógio foi destruído
Não estás mais presas ao tempo
Não estás mais sob o controle de nenhum desejo reprimido
Fecha seus olhos
Sinto a energia irradiando do seu sorriso
Completando o espetáculo maravilhoso
A luz dourada, forte e aconchegante
Meu coração cheio e transbordante
Ciente que em um instante
Não estarei mais ali

Onde reside essa ilusão?
Para onde vão os sonhos?
Será que sabes o Salvador Dalí?
Moram em algum lugar
Nas ondas etéreas do meu pensamento
Para onde fogem os sentimentos
Para poderem morar e habitar
Em outra dimensão
Para além do real
Enquanto isso, o tempo me acalça
E me avisa:
"Estás se esvaindo, por que insiste na esperança?"
Lembro do sonho de ver a aurora boreal
Lembro da voz da Heloísa
Lembro do que me constitui
Mais que átomos
Há o irreal
A ficção que no cotidiano
Se desfaz 
Onde o engano se esvai
E fica no âmbito surreal
Existindo e se extinguindo

Sinto as linhas se fechando
A realidade chama:
"Por que se engana?"
Vejo ela
De longe
Fechada, distante
A menina da espada de São Jorge
Com sua luz
Inconsciente e indiferente
Compete com o próprio Sol ascendente
E eu sonho, e sonho e sonho mais
Sem me ater aos fatos racionais
Que ficam cochichando e me chacoalhando 
Par me despertar
As linhas agora a me matar
Se fecharam
Rígidas
Presa de novo ao enredo 
Do frio momento 
Constrangida e ridicularizada
Estagnada

Agora entendo o brado
Da Adélia Prado
Que me consola
E, de novo, desola.











"você é o fenótipo mais precioso que uma sequência nucleotídica foi capaz de condicionar"

Beagá

Adélia Prado 

Emily Dickison 

Kilimanjaro 











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